quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O mérito é pra quem pode

Na região onde moro está uma das universidades de maior prestígio no Brasil, que é a Unicamp. Entrar la é pauleira, tem que estudar muito. Inclusive eu tenho um primo, que por sinal comentou brevemente no post Aprendendo a ser igreja com história da Bossa Nova, o Silas, que estuda história lá.

Quando passa da metade do ano um grande número de jovens enfia a cara nos livros e enchem as salas dos cursinhos, onde professores que são verdadeiros show-man usam de todas as estratégias possíveis e imagináveis pra colocar o máximo possível de informações nas cabeças da molecada.

O vestibular é necessário devido à grande demanda de alunos, e a pequena oferta de vagas. E os cursinhos pré-vestibulares visam capacitar o jovem à competição selvagem que lhe espera. Ou seja, consegue-se a vaga unicamente por MÉRITO. Para os demais resta-lhes pagar a mensalidade em algum centro universitário com menor prestígio.

O conceito de mérito está tão entranhado em nossa cultura que quase tudo que fazemos envolve algum sacrifício. Quer ter um corpo bonito e saudável? Sacrifique a picanha e algumas horas por semana na academia. Quer alcançar aquela promoção no emprego? Sacrifique seu fim-de-semana com a família. Quer conquistar aquela garota? Sacrifique o futebol com os amigos (e o dinheirinho do sorvete... rs).

Dia desses entrei no Carrefour numa tarde de domingo (eu sei, é burrice, admito) e não tinha nem mais um carrinho de compras disponível. Então entrou um senhor de meia-idade com seu carrinho e quando ele viu uma senhora de uns 70 anos sozinha e com cara de "cachorro em dia de mudança" não teve dúvidas. Foi até ela e disse: "Tome. Eu pego outro pra mim".

Ao invés de ficar simplesmente grata, aquela senhora ficou preocupada. "Mas o senhor vai ficar sem?", e o homem respondeu com um largo sorriso. "Vou sim, até que consiga um outro para mim. Este agora é seu".

Ele aproveitou-se da dificuldade de locomoção da velhinha, e voltou para o estacionamento com a lista de compras na mão, procurando outro carrinho para dar seguimento ao tedioso processo (eu odeio fazer compras, como podem ver...)

Sabemos que a Bíblia é dividida em dois momentos históricos que são também chamados de "Testamentos". Nestes testamentos Deus nos mostra duas faces aparentemente bem distintas: JUSTIÇA e GRAÇA. O Deus justo do Antigo Testamento não se parece muito com o Deus gracioso e perdoador do Novo Testamento. Confesso que sempre tive alguma dificuldade em compreender essa aparente "esquizofrenia divina".

Na carta aos romanos encontrei o que penso ser a resposta.

Romanos 3:19
"Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus"

Resumindo: a LEI explica a GRAÇA. Se eu der um milhão de dólares para a minha filha de 3 anos ela vai pegar uma canetinha, uma tesoura, e fazer uma bagunça com aquele monte de papel. Ela só compreenderia o valor do presente se compreendesse antes o valor do sacrifício.

Vivemos num mundo que já conhece muito bem este valor. Também conhecem muito bem o juízo de Deus. Temem tanto um Deus julgador, que trataram de criar figuras menos intimidadoras e mais manipuláveis de Deus. Mas isso no fundo não as reconforta, pois a consciência do pecado não pode ser apagada.

De que adianta sairmos por aí condenando as práticas das pessoas? Será que elas já não sabem discernir o que as torna indignas?

Efésios 2:8 -9
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie"

Somente crer é suficiente. E nem mesmo o crer é mérito nosso, pois a fé vem do próprio Deus.

Sabe diante de Deus qual a diferença entre o mendigo beberrão e o pastor engravatado? Nenhuma. Ambos são condenáveis, ambos carecem da mesma graça.

Mas e se o pastor bater no peito e dizer: "O que??? Está me comparando com este traste humano?" então eu passo a ter mais pena do pastor que do mendigo.

A verdade é que nós nunca saberemos se foi a justiça de Deus que levou Cristo à cruz, ou se foi a graça de Deus que nos livrou dela.




Um comentário:

  1. Grande Gian!
    Pela falta de tempo por enquanto só li esse texto, mas gostei muito da idéia.

    Tudo o que vc escreveu é algo que tenho aprendido recentemente com o livro "Maravilhosa Graça".
    Infelizmente no "sistema" tudo é baseado naquilo que somos capacitados e merecemos, talvez isso nos dificulte tanto entender a "graça" de Deus para conosco, é engraçado como sempre me pego querendo ser aceito por Deus por algo bom que faço, ou apenas algo errado que deixo de fazer. Aceitar graça, (principalmete a graça estendida ao mendigo beberrão) é algo que vai totalmente contra a nossa natureza moral né?!

    Grande abraço, sempre que der darei uma passadinha aqui... =)

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