sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

É proibido proibir

No início do ano estive com um amigo muito precioso que mora em Balneário Camboriú (SC) e que portanto tenho raras e boas oportunidades de conversar pessoalmente. O Guilherme esteve em casa e no meio de nossa conversa surgiu algo que venho ruminando desde então. Ele disse: "Às vezes a gente se esquece que a árvore proibida do jardim do Éden não era o MAL, mas sim BEM e MAL. A opção ao erro era simplesmente a VIDA".

Acho que tem muita coisa que passamos batido nas escrituras, mas esta me pegou mesmo se sobressalto. Então o BEM também está incluso no PECADO? Muito estranho para alguém criado na igreja ouvir isso. Sempre imaginei os 10 Mandamentos como uma espécie de parâmetro para a vida cristã - apesar de encontrar alguma dificuldade em entender como a guarda do sétimo dia seria "traduzida" para o novo testamento.

Em suma, poderíamos dizer que BEM e MAL não faziam parte do plano de Deus. Ele preferia que optássemos pela VIDA. Seu plano original, ao criar o homem à SUA imagem era que este homem multiplicasse seres também à SUA imagem, ou seja, iguais a Deus. VIDA.

Não havia religião, não haviam mandamentos, não haviam dogmas, sacerdotes profissionais, não haviam reuniões. Apenas Deus e a humanidade, se encontrando diariamente à tardinha como bons amigos. Havia prazer nessa relação, não obrigatoriedade.

A proibição à árvore do conhecimento do BEM e do MAL poderia ser entendida em termos chulos da seguinte forma: A única regra é que não há regras! Ou ainda para citar Caetano Veloso, "É proibido proibir".

Comer daquela árvore significaria abrir os olhos do homem para o que significa viver uma vida tendo que escolher entre o certo e o errado. Com as duas forças em seu interior, o que ele QUER e o que ele FAZ, como bem ilustrou o apóstolo Paulo.

Refletindo sobre isto não consigo deixar de pensar se não estamos tomando o caminho errado. Retornar para Deus através do caminho do certo e do errado seria como comer novamente do fruto do BEM e do MAL. Isso tem sido experimentado pela igreja há séculos, sem sucesso. As pessoas continuam carregando seu fardo de pecados, sua mochila de expectativas e sua sacola de culpas.

Na real mesmo vejo que o certo e o errado, o BEM e o MAL tem sido usado para nos justificar, por mais ridículo que isso possa parecer. Usamos aquelas regras que conseguimos superar com relativa facilidade para nos colocar num patamar mais elevado que aqueles que encontram dificuldade com aquela mesma regra.

Por exemplo, para mim é muito fácil olhar para um viciado em crack e me dizer-lhe que está no caminho errado. Mas se ele tivesse a mesma cara-de-pau que eu tenho, poderia me jogar na cara uma série de pecados contra os quais eu vivo me debatendo, mas que ele por outro lado não encontra nenhuma resistência. Mas ele não faz isso. Ou seja, nós que conhecemos a Lei, tentamos nos justificar pela Lei. Talvez nesse ponto cheguemos à conclusão de que ele (o jovem viciado) está mais próximo da graça do que eu.

Romanos 3:19
"Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus."

Confesso que isso pode ser frustrante. Me esforço para ser "aceitável" dentro de um certo padrão de comportamento, então descubro que este mesmo padrão foi criado com o único propósito de me tornar "condenável"? Estranho...

Então a Lei não é para ser seguida, sob risco de me tornar condenável? É uma forma de ver as coisas...

Creio que a observação de um certo padrão de comportamento é sim proveitosa, porém não para nossa aceitação diante de Deus, mas como nossa resposta ao Seu amor. Este é o ponto.

Ele nos amou primeiro. Isso significa que não é aquilo que somos, aquilo que temos, ou aquilo que fazemos, mas sim o Seu amor infinito que nos aproxima dEle, e nos acolhe. Isso se chama GRAÇA, que é uma nova forma de interpretar a ÁRVORE DA VIDA. Ela não é opsta mas sim complementar à ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL, tanto quanto JUSTIÇA e GRAÇA são complementares.

O ato de NÃO comer da árvore do BEM e do MAL já era em si um fruto do comer da VIDA. Como uma resposta à GRAÇA, não como uma norma de conduta (LEI).

Espero sinceramente ter dado um nó na cabeça de muita gente, porque a minha está totalmente enrolada (rs). Este é o tipo de coisa que a gente se esforça, até consegue enxergar, mas sempre sente que há algo ainda por compreender. Assim é Deus.