terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Jesus e a não-religião




Cada vez que olho para a igreja evangélica moderna o sentimento que meu coração mais manifesta por ela é este: Dó, PENA.

O religioso evangélico moderno não crê definitivamente em Jesus e em sua mensagem, por isso está tão íntimo de Deus quanto um polvo abandonado no solo seco do deserto do Saara. Compreende tão bem as palavras do Mestre quanto um cachorro estudando física nuclear. E se empenha tanto na missão de Cristo quanto uma criança mimada frente a um prato de jiló.

A religião tem sido, séculos a fio, exatamente a responsável por nos anestesiar das verdades proclamadas pelo evangelho de Cristo. Nos preocupamos com o dízimo, e não ajudamos os necessitados; nos atemos à música e não vivemos uma vida de adoração; estudamos exaustivamente a teologia, e não vivemos a vida de Cristo.

Paulo disse a Timóteo q todo aquele que deseja piamente seguir a Jesus, SOFRERÁ PERSEGUIÇÕES. A religião, por outro lado, busca a cada dia se tornar mais ACEITÁVEL do ponto de vista secularizado. Ou então, quando foi a última vez que você ouviu um pregador que anunciava do púlpito as palavras de Jesus:

"Quem não aborrecer pai, mãe, e até a si mesmo, não pode ser meu discípulo"

"Todo aquele que dentre vós não renuncia TUDO quanto tem NÃO PODE ser meu discípulo"

"Arrependei-vos pois é chegado o Reino dos Céus"???

Simples. A religião não prega estas palavras porque a religião não tem parte com Cristo.

Tenho ouvido de alguns irmãos que devemos preservar nossas raízes religiosas, seguindo o exemplo de Cristo, que não deixou de ser judeu. Ta certo, Jesus não abandonou o judaísmo no qual nasceu, porém ele não se calou diante da opressão dos sacerdotes, antes pôs o dedo na ferida da religião, ao ponto deles o matarem.

O que mais me intriga é que os judeus buscavam um messias que os livrasse do jugo político romano, porém Jesus surge como o messias que intenta livrá-los do jugo religioso, ou seja, deles mesmos.

Afinal, o que Jesus queria dizer quando falava "Ouviste o que foi dito por Moisés.... Eu porém vos digo...?". A verdade é que não dá pra conciliar religião e Jesus. O Sermão da Montanha (Mateus 5, 6 e 7) deixa isso muito evidente.

Nessa passagem Jesus diz que se alguém fosse um bom judeu, deveria apedrejar sua filha que perdeu a virgindade antes do casamento. É o que diz a religião. Se alguém fosse um bom judeu, deveria odiar seus inimigos. Mas se alguém quer ser um discípulo de Jesus ele deve amar ao seu próximo, e também seus inimigos. Orar por quem o persegue. Ser sal e luz por onde passa, expalhando as boas novas e o amor de Deus!

Veja bem, se eu tenho algo que não me serve, para que continuar com ele? Se eu sei que aquilo só está servindo para atrapalhar e normatizar negativamente minha relação com Deus, para que eu sigo aquelas regras?Jesus foi absolutamente contra as práticas religiosas. E atacava a religião até mesmo no patio do templo, onde costumava reunir-se com os seus discípulos.

Que diriam se um profeta mais exaltado levasse um chicote a um certo "encontro gideônico", em Santa Catarina?

A religião é o próprio erro humano. O esforço para alcançar a Deus por nosso mérito. Isso é simplesmente impossível. Mas a bíblia ensina que foi o próprio Deus quem fez o caminho de retorno, nos religando ao Pai. Por isso a graça nos alcançou.

Se por um acaso a religião nos faz seres humanos melhores (e eu sinceramente duvido muito) é para nos gabarmos do que somos, e diminuirmos nosso próximo. É isso que a história da religião nos mostra. Nesse contexto, a missão de qualquer discípulo de Jesus que esteja engajado em alguma religião deveria ser unicamente de abrir os olhos dos fiéis para a verdade, que é NÃO HÁ SALVAÇÃO NA RELIGIÃO.

Glória a Deus pq o Reino dos Céus chegou a nós... Não apenas como uma esperança de um dia desfrutarmos do paraíso na eternidade, mas como uma vida abundante de adoração prática, capaz de impactar a sociedade em que vivemos.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Jesus é para perdedores




Os clássicos nunca morrem. Tava passeando pela web e me lembrei do velho Steve Taylor. Este clipe é do início da década de 90.. (1992 eu acho). Como a música está numa temática muito parecida com meu último post, nem vou comentar. Apenas segue uma tradução livre da letra. (Ainda que o meu inglês não seja o melhor do mundo... rs).

Curta e reflita.

Jesus é para perdedores
Jesus is for Losers - Steve Taylor

Se eu fui guiado
Guiado adiante por nobres ideais
Quem tomou a direção?

Se me foi ofertado
Ofertado um vislumbre de alguns caminhos gloriosos
Quando foi que eu comprei isso?

Então eu me torno a caça
E continuo esquecendo o meu lugar

Assim como eu sou
Cabeça-dura e orgulhoso
Jesus é para perdedores
Porque é que eu continuo a jogar com a multidão?

Assim como eu sou
Passe a bússola, por favor
Jesus é para perdedores
Estou fora uns cem graus

Se eu estivesse tateando
Tateando em torno de alguma escada da fama
Estaria envergonhado

Se eu estavesse esperando
Esperando respeito arrumaria um enorme capacho
Eu seria um idiota

Cansado de cada escalada
Surpreendido cada vez

Assim como eu sou
Estou carente e seco
Jesus é para perdedores
O "faça-você-mesmo" não funciona

Assim como eu sou
Rastejando em um deserto
Senhor, estou tão sedento
Leve-me até à cascata

E se você estiver certo
Certo que a sua vida é algum erro cósmico
Porque você treme?

E se você estiver certo
Certo de que a fé é um disfarce para a ignorância
Por que você ainda pergunta?

Eles não foram aprovados aqui na curva
Nós dois sabemos o que merecemos

Assim como você está
Apenas um desgraçado como eu
Jesus é para perdedores
Graça vem do sangue do madeiro

Assim como nós somos
Em uma derrota total
Jesus é para perdedores
Quebrantados aos pés da cruz

Assim como eu sou
Passe a bússola, por favor
Jesus é para perdedores
Estou fora uns cem graus

Assim como eu sou
Rastejando em um deserto
Senhor, estou tão sedento
Leve-me até à cascata

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O mérito é pra quem pode

Na região onde moro está uma das universidades de maior prestígio no Brasil, que é a Unicamp. Entrar la é pauleira, tem que estudar muito. Inclusive eu tenho um primo, que por sinal comentou brevemente no post Aprendendo a ser igreja com história da Bossa Nova, o Silas, que estuda história lá.

Quando passa da metade do ano um grande número de jovens enfia a cara nos livros e enchem as salas dos cursinhos, onde professores que são verdadeiros show-man usam de todas as estratégias possíveis e imagináveis pra colocar o máximo possível de informações nas cabeças da molecada.

O vestibular é necessário devido à grande demanda de alunos, e a pequena oferta de vagas. E os cursinhos pré-vestibulares visam capacitar o jovem à competição selvagem que lhe espera. Ou seja, consegue-se a vaga unicamente por MÉRITO. Para os demais resta-lhes pagar a mensalidade em algum centro universitário com menor prestígio.

O conceito de mérito está tão entranhado em nossa cultura que quase tudo que fazemos envolve algum sacrifício. Quer ter um corpo bonito e saudável? Sacrifique a picanha e algumas horas por semana na academia. Quer alcançar aquela promoção no emprego? Sacrifique seu fim-de-semana com a família. Quer conquistar aquela garota? Sacrifique o futebol com os amigos (e o dinheirinho do sorvete... rs).

Dia desses entrei no Carrefour numa tarde de domingo (eu sei, é burrice, admito) e não tinha nem mais um carrinho de compras disponível. Então entrou um senhor de meia-idade com seu carrinho e quando ele viu uma senhora de uns 70 anos sozinha e com cara de "cachorro em dia de mudança" não teve dúvidas. Foi até ela e disse: "Tome. Eu pego outro pra mim".

Ao invés de ficar simplesmente grata, aquela senhora ficou preocupada. "Mas o senhor vai ficar sem?", e o homem respondeu com um largo sorriso. "Vou sim, até que consiga um outro para mim. Este agora é seu".

Ele aproveitou-se da dificuldade de locomoção da velhinha, e voltou para o estacionamento com a lista de compras na mão, procurando outro carrinho para dar seguimento ao tedioso processo (eu odeio fazer compras, como podem ver...)

Sabemos que a Bíblia é dividida em dois momentos históricos que são também chamados de "Testamentos". Nestes testamentos Deus nos mostra duas faces aparentemente bem distintas: JUSTIÇA e GRAÇA. O Deus justo do Antigo Testamento não se parece muito com o Deus gracioso e perdoador do Novo Testamento. Confesso que sempre tive alguma dificuldade em compreender essa aparente "esquizofrenia divina".

Na carta aos romanos encontrei o que penso ser a resposta.

Romanos 3:19
"Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus"

Resumindo: a LEI explica a GRAÇA. Se eu der um milhão de dólares para a minha filha de 3 anos ela vai pegar uma canetinha, uma tesoura, e fazer uma bagunça com aquele monte de papel. Ela só compreenderia o valor do presente se compreendesse antes o valor do sacrifício.

Vivemos num mundo que já conhece muito bem este valor. Também conhecem muito bem o juízo de Deus. Temem tanto um Deus julgador, que trataram de criar figuras menos intimidadoras e mais manipuláveis de Deus. Mas isso no fundo não as reconforta, pois a consciência do pecado não pode ser apagada.

De que adianta sairmos por aí condenando as práticas das pessoas? Será que elas já não sabem discernir o que as torna indignas?

Efésios 2:8 -9
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie"

Somente crer é suficiente. E nem mesmo o crer é mérito nosso, pois a fé vem do próprio Deus.

Sabe diante de Deus qual a diferença entre o mendigo beberrão e o pastor engravatado? Nenhuma. Ambos são condenáveis, ambos carecem da mesma graça.

Mas e se o pastor bater no peito e dizer: "O que??? Está me comparando com este traste humano?" então eu passo a ter mais pena do pastor que do mendigo.

A verdade é que nós nunca saberemos se foi a justiça de Deus que levou Cristo à cruz, ou se foi a graça de Deus que nos livrou dela.




terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O que é adoração? (parte 3/3)

EM ESPÍRITO E EM VERDADE - Como seremos verdadeiros adoradores?

Creio que agora ficou fácil tão quanto somar um mais um. É impossível adorar a Deus “em espírito” (manifestando a Ele nosso amor) se nós não o adoramos “em verdade” (manifestando ao próximo o amor dEle). Mas o contrário também é verdadeiro. Não podemos adorar a Deus “em verdade” (amparando aos necessitados), se não o estivermos adorando “em espírito” (sendo amparados por Ele).

Quando fomos alcançados pela misericórdia de Deus nós ganhamos um par asas como de águia. Uma asa chama-se “em espírito” e a outra chama-se “em verdade”. Se não houver sincronismo nós despencamos: ou para a adoração carnal, guiada unicamente por nossos impulsos emocionais e calafrios na espinha; ou para a falsa moral, guiada unicamente por um legalismo frio da letra morta.

Mas chega de dizer “o que não fazer” e vamos direto ao ponto. “O que fazer?”

Mateus 18:20
“Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.”

Espero que os irmãos não se escandalizem com o que vou colocar aqui, mas quando nos reunimos para comer uma pizza, contar piadas, ouvir música, ver um filme ou jogar “Imagem e Ação”, ali o Senhor está. Ele está no meio de nós, não só em nossas reuniões religiosas. Deus não é um passarinho, atraído por uma fita cassete que imita seu canto a fim de prendê-lo num alçapão.

Ele é o nosso Senhor, e é também a razão de nos reunirmos, mesmo quando a reunião é a mais informal possível. Não há outro motivo para continuarmos vivos, a não ser o louvor da Sua Glória. Para isso fomos gerados, para isso toda a criação existe.

I Corintios 10:31
“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.”

Graças a Deus! Podemos nos alegrar, nos edificar mutuamente, comendo, bebendo ou fazendo qualquer outra coisa PARA A GLÓRIA DE DEUS. Até por que era assim que o próprio Jesus fazia nos banquetes e nas reuniões entre amigos, nos templos e também à beira de um poço.

Podemos cantar, mas também podemos ficar em silêncio. Podemos chorar e nos quebrantar, mas também podemos nos divertir e nos alegrar. Não é mais necessário um sacerdote para interceder por nós diante de Deus, pois temos um Sumo Sacerdote que nos abriu o caminho de volta para o Pai! Jesus Cristo!

I Corintios 3:17-18
“Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.”

Para concluir, podemos dizer que o verdadeiro adorador é aquele que contempla a face do Senhor e se torna como Ele. Quanto mais olha para Ele, mais parecido com Ele fica. Suas atitudes e sua forma de pensar são transformadas à imagem de Jesus. Seu amor pelo próximo já não é um dever, mas sim algo que brota de uma vida íntima com Deus.

O verdadeiro adorador é aquele que o Pai procura: um filho, disposto a ser transformado à sua imagem e semelhança.

O que é adoração? (parte 2/3)

EM VERDADE - Ministrando a graça

Quando somos alvo da graça de Deus resta-nos apenas dois caminhos possíveis, e já vimos quais são: o doce e o amargo. Disso depende também nossa adoração “em verdade”.

Ao recebermos graça não podemos de modo algum espalhar a ausência de graça, ou a “desgraça”. Para mim está claro que devemos nos tornar multiplicadores da mesma graça que nos salvou.

Me incomoda muito a parábola de Jesus sobre o servo com a dívida impossível de ser sanada (Mateus 18: 23-35). Após ser perdoado de uma dívida de milhões de dólares, este cidadão foi cobrar os R$ 0,25 que seu vizinho havia tomado emprestado para comprar um pão francês. Sei que parábola não está nestes termos, mas fica mais fácil entendermos a situação contextualizando os elementos.

Ora, fomos todos resgatados. O Senhor nos perdoou uma dívida que só poderia ser sanada no inferno. Aliás, nunca é demais lembrar, todos iríamos para lá se não fosse por Jesus. Até mesmo o mais correto entre os homens não pode justificar-se a si mesmo. Somente o pagamento providenciado pelo próprio Deus, nos livrou da dívida que tínhamos para com Ele mesmo.

Como posso eu revidar com um soco ao irmão que me feriu? Como posso cobrar aquele que me ofendeu? Como posso tirar satisfações com a velhinha que me fechou no trânsito sem estar cometendo uma tremenda injustiça?

Diante da minha dívida, paga por Cristo na cruz, os meus direitos, dos quais me orgulho tanto tornam-se tão pequenos. Eu diria que são insignificantes.

No primeiro capítulo de Isaías, o Senhor queixa-se que o “louvor” apresentado pelo povo naquela ocasião simplesmente não estava em consonância com a atitude deles diante das dificuldades daqueles que os cercavam. Ele chega a declarar que, quando o povo estendia as mãos, em gesto de adoração, o Senhor escondia deles o rosto. “…porque as vossas mãos estão cheias de sangue…” (vers. 15).

O conselho para eles era de que se lavassem, se purificassem, tirassem a maldade de seus atos, e parassem de fazer o mal, mas aprendessem a fazer o bem. Buscassem a justiça, acabassem com a opressão, fizessem justiça ao órfão, e defendessem a causa da viúva. (vers. 16 e 17).

Parecem coisas muito distantes da “adoração” a que somos mais habituados. É que para adorar em verdade não precisamos de instrumentos musicais, nem de microfones. Não precisamos de um salão de reuniões. Quem a pratica não vende CDs, nem fica famoso. Não ganha dinheiro (e muitas vezes acaba até perdendo o pouco que tem), mas sem esta adoração “em verdade”, nossa adoração “em espírito” não vai passar do teto.

Adorar em verdade não é retribuir favores àqueles que foram ou são bons conosco. Também não é simplesmente praticar uma caridade “kardecista”, a fim de sermos recompensados neste ou em outro mundo. É sim MINISTRAR GRAÇA. E, por se tratar de algo gratuito, fica claro que não receberemos nada em troca.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O que é adoração? (parte 1/3)

João 4:21, 23 e 24
“Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me, a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai… Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.”

Esse texto é muito rico e muito especial. Eu o conheço e ouço falar sobre ele desde que me conheço por gente. Aqui Jesus fala a uma mulher que, além de amasiada (um pecado enorme para os padrões da época), era samaritana (um povo com o qual os judeus não se davam).

Aparentemente Jesus não deu muita importância para os estigmas que acompanhavam aquela senhora. Ele diz a ela que brevemente judeus e samaritanos adorariam ao Pai da mesma forma.

Mas afinal, o que significa adorar em espírito e em verdade?

I Corintios 14:2-4
“Porque o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação. O que fala em língua edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja.”

Aqui Paulo fala sobre dois níveis de ministração. Chama a atenção que o falar em línguas, segundo o apóstolo, é algo que se faz em espírito, e traz edificação para si próprio. Já o profetizar, afirma ele, edifica a igreja através de edificação, exortação e consolação.

Acredito que o mesmo acontece com um adorador “em espírito e em verdade”. A Deus ministra em espírito, para a própria edificação. E em verdade ministra aos irmãos para a edificação de todo o corpo de Cristo.

EM ESPÍRITO – Experimentando a graça

Parece estranho que ao dirigirmos nossa adoração ao Senhor os edificados sejamos nós mesmos, e não Ele. Mas não há como negar o quanto NÓS somos abençoados neste processo. Reconhecer nossa insuficiência diante da santidade do nosso Deus é algo que nos lava a alma, e nos traz realmente uma sensação de que fomos aceitos por Ele, apesar de nossas gigantescas imperfeições. É possível dizer que adorar em espírito é o mesmo que EXPERIMENTAR A GRAÇA.

Por outro lado é possível encontrar diversas citações bíblicas em que Deus afirma categoricamente que não está se agradando daquela “adoração”. Em cada uma delas parece haver um ponto comum que “maculou” a adoração que supostamente estaria ocorrendo em: A FALSIDADE (Lucas 18:10-14 / Isaías 1:13-17 / Oséias 6:6)

Não se trata da simples mentira em si, nem mesmo do pecado. No Salmo 32 Davi deixa bem claro que a santidade não é a ausência de pecado, mas sim o confessar “a tempo” as suas faltas, antes que o “transbordar das muitas águas” te arraste para longe da presença de Deus.

Interessante o salmista usar a figura da ÁGUA, que justamente trata do derramar do Espírito, e do fluir da graça de Deus, como se fosse um momento terrível. Parece-me que, permanecer com o pecado encoberto, diante da manifestação do Senhor significa problemas à vista…

Como já dissemos, quem adora em espírito experimenta a graça. Mas não se pode experimentar a graça sem que haja arrependimento. Uma coisa está firmemente dependente da outra.

Judas e Pedro foram traidores de Jesus. Ambos foram alvos da graça, mas apenas Pedro a experimentou mediante o arrependimento. Judas sentiu um gosto muito mais amargo.

Diante da graça de um mestre que, mesmo sabendo que seria traído por ele, o tratou como os demais, em amor, ensinando-o e compadecendo-se dele. Judas afogou-se no remorso. Pedro arrependeu-se, e gozou do perdão e da graça desse mesmo mestre.

Circunstâncias muito semelhantes. Posturas ligeiramente diferentes. Futuros completamente diversos. Enquanto um tornou-se um dos principais entre os apóstolos, o outro comprou um campo para enforcar-se.

Aprendendo a ser igreja com história da Bossa Nova

Tenho uma amiga a quem prezo muito chamada Silvia Marcondes. Ela é uma daquelas cariocas bem nascidas, educada em colégio inglês, criada em mansões, politizada, capaz de discutir sobre quase qualquer tema que a conversa exigir.

Filha de Enio Silveira (um magnata que publicava livros comunistas no Rio de Janeiro em pleno auge da ditadura militar) Silvia cansou de me contar como viu a Bossa Nova nascer no piano que ornamentava a sala de sua casa. Não, seus pais não eram músicos e nem seus irmãos. O piano era uma cortesia que o senhor Enio preparava para receber amigos como Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, João Gilberto, Baden Powell, entre outros "jovens" talentos.

Isso aconteceu no final da década de 50, exatamente quando um grupo de amigos cansados da pobreza cultural da época começaram a compor música com temática brasileira inspirada no jazz norte americano.

Eles eram em sua maioria jovens da classe A e B, que viviam em apartamentos não raras vezes sustentados pelos pais. Exceto pelas ocasiões em que se encontravam na mansão onde morava minha amiga Silvia, suas canções eram entoadas bem baixinho, em seus apartamentos, para grupos de cinco ou seis amigos. Daí o jeitão de cantar sussurrando, que apareceu logo na primeira gravação do "Desafinado" João Gilberto. O que no início aparentava ser uma limitação acabou se tornando o charme da Bossa, e uma identidade que acabou conquistando o mundo.

Alguns anos atrás, eu conversava com alguns irmãos sobre a necessidade ou não dos templos, uma vez que sabemos que Jesus e os primeiros discípulos não dispunham de uma estrutura física para se reunirem.

Eles não tinham um lugar para chamar de "igreja", por isso qualquer lugar em que se encontrassem acabava se tornando uma "igreja" (na concepção moderna e mais vulgar da palavra). Na prática, eles mesmos ERAM a igreja, e levavam isso muito a sério. A ponto de morrerem por sua fé.

O livro de Atos dos Apóstolos (que poderia muito bem chamar-se Atos do Espírito Santo) nos ensina que a igreja reunía-se nas casas dos fiéis. Mas muito longe do que cogitam alguns, esta não foi uma prática cultural apenas, ou fruto da perseguição (que na verdade surgiu depois), mas uma resposta positiva à ordem expressa do próprio Jesus, registrada em Mateus 10:11

"E, em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela seja digno, e hospedai-vos aí, até que vos retireis."

A estratégia dada pelo próprio mestre não envolvia grandes cruzadas evangelísticas, nem apelos ao arrependimento das multidões. Ela era simples. "Procurem casas de pessoas dignas, e fiquem ali ensinando elas".

Fácil, não?

Mas numa dessas ocasiões fui inquirido por um irmãozinho nos seguintes termos. "Hoje nós que vivemos nos grandes centros urbanos, não temos tanta privacidade assim. Nossos apartamentos são pequenos para reuniões caseiras, e não é possível nem mesmo cantar um hino em voz alta que os vizinhos já reclamam. Orar em línguas então, nem me fale..."

Nesse momento eu me lembrei de minha amiga Silvia Marcondes e da turma da Bossa Nova.

Se o apartamento não comportava uma platéia de 20 pessoas, eles reuniam cinco. Se não podiam fazer barulho, eles cantavam baixinho. Não é à toa que tinham o respeito e admiração da alta sociedade carioca (que convivia nos mesmos prédios que eles). Não vou entrar no mérito aqui, mas será que temos o respeito dos vizinhos de nossos "templos"? Ou é melhor nos isolarmos em nossos feudos cristãos a fim de termos um pouco de privacidade e "louvarmos" a Deus como nos convém?

Gosto muito da versão da Sociedade Bíblica Britânica para Colossenses 3:16

"A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria, instruindo e admoestando-vos uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, com gratidão louvando a Deus em vossos corações."

Uma leitura mais atenta nos revela que os salmos, hinos e cânticos espirituais não necessitam estar em nossos lábios (muito menos do outro lado da parede, impedindo o vizinho de assistir a novela ou o Fantástico), mas sim em nossos corações.

A Bossa Nova ganhou o mundo com um sussurro carregado de emoção.

Com toda sinceridade, creio que o evangelho tem muito mais a acrescentar. Depende de nós crermos nele, e obedecermos ao nosso Senhor, Jesus Cristo.

Paz a todos.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Eu nunca fui evangélico

Tenho a impressão de que desde que decidi seguir a Jesus (aos 4 anos de idade) sempre fui ensinado que evangélicos, católicos, kardecistas, judeus, muçulmanos são apenas religiosos, e que professar uma fé não significa absolutamente que alguém está ou não mais perto de Deus.

Sempre fui ensinado que não estaria entregando minha vida à religião, e que não éramos definitivamente uma "igreja evangélica". Éramos (e ainda somos) um grupo de discípulos de Jesus Cristo.

Biblicamente falando, a palavra "evangélico" não aparece nenhuma vez nos "evangelhos" (por mais estranho e controverso que isso possa parecer) para designar aqueles que viviam e proclamavam as boas novas.

A palavra CRISTÃO (que aparece 3 vezes) surge um xingamento usado pelos judeus que não criam que Jesus havia ressuscitado a fim de desestimular a fé daqueles que se achegavam a Deus através de Jesus. Era como dizer: "Vocês seguem àquele mestre judeu que se dizia rei e foi crucificado? O fim de vocês vai ser o mesmo dele, serão derrotados e expostos vergonhosamente".

A palavra CRENTE aparece 9 vezes, mas na maioria delas não se refere a uma "nomenclatura", mas a um adjetivo. Como quando Jesus diz a Tomé para não ser INCRÉDULO, mas sim CRENTE (João 20:27). Isso não significa que Tomé deveria aderir a um determinado grupo religioso que se denominaria como "crente", mas que ele crêsse em Jesus e em suas palavras. Ou seja, numa tradução livre, Jesus teria dito algo como: "Tomé, você precisa ser menos cético, e mais crédulo".

No termo EVANGÉLICO acontece a mesma coisa. Com zero aparições (isso mesmo, ZERO) na única vez que aparece uma derivação dessa palavra é no feminino, e trata da "FÉ EVANGÉLICA" (Filipenses 1:27), que em algumas versões é substituído pela expressão "fé do evangelho". Trata-se de uma recomendação de Paulo pela unidade da igreja em Filipo, a fim de que prosseguissem na mesma direção ainda quando ele não estivesse por perto.

Já o termo DISCÍPULO é o único substantivo autêntico, que designa aqueles que pretendem ser como Jesus. Claro que há um "peso" nisso. Proposital, claro.

Ser discípulo não é ir aos cultos, nem é ter seu nome num hall de membros. Não é ter um ministério (se é que alguém pode TER isso...) e nem mesmo é professar uma religião.

Mas o discípulo não é um agente secreto. Longe disso. Ele prega com suas atitudes. Adora a Deus com sua obediência e vive em função do propósito de Deus.

Enquanto vemos cristãos e evangélicos nominais (os famosos "não-praticantes"), o mesmo não acontece com os discípulos.

Quem é, é e ponto final. Ou é ou não é. Não existe discípulo desviado. Existe discípulo simplesmente. E quem não é discípulo pode ser encarado como "campo missionário", mas isso é assunto pra outro dia.

Paz a todos.