sábado, 14 de novembro de 2009
Pela regeneração de nós mesmos no Evangelho...
[...]
Eu não creio em reformas!
Reformas dão formas às formas que existem – são novas formas. E essa forma de cristianismo que está aí foi uma invenção do imperador Constantino há 1700 anos. Não tem nada a ver com Jesus nem com o Novo Testamento, é uma construção humana.
Reformar isso aí? Para quê? Para que reformar aquilo que Jesus nem reconheceu como tendo relação com ele?
[...]
A questão é mais séria. É saber se aquele a quem nós mencionamos como Jesus – esse nome que evangélico usa assim de maneira babante o dia inteiro, sem significado –, se esse Jesus dos evangélicos tem alguma coisa a ver com o Jesus dos Evangelhos.
E a gente verifica que não! Que são entes diametralmente opostos! O Jesus da igreja não é nem primo do Jesus dos Evangelhos! É inimigo do Jesus dos Evangelhos de tão diferente dele que ele é.
A terminologia igreja define um cassino hoje em dia. E não o ajuntamento da piedade, do amor, da misericórdia, do carinho, da graça, da bondade.
O termo evangélico entre nós contradiz o que o sentido do termo evangélico define. Evangélico. No Novo Testamento, é uma expressão usada por Paulo escrevendo uma carta aos Filipenses, onde ele manda que lutemos juntos pela fé evangélica. No Novo Testamento, evangélico é aquilo que carrega a qualidade do Evangelho.
Portanto, hoje, a nossa volta, quando vemos esse termo sendo usado de uma maneira abusiva... tudo é evangélico, todos são evangélicos! Agora só tem evangélico! E você fica vendo quem são os evangélicos. Eles são tudo, menos evangélicos! Porque não carregam nenhuma gota, nenhum sereno do conteúdo do Evangelho em suas mentes, almas, decisões, sentimentos e compreensões.
Portanto, é outro estelionato, nem o termo dá para usar.
De fato, nós estamos vivendo dias dificílimos na história humana, muito mais difíceis do que aqueles que caracterizaram e marcaram os tempos da Reforma Protestante no século XVI.
O que se tinha então, à época, se repete hoje aqui com potencializações, com variedades temáticas e com implicações e desdobramentos que estão para além da nossa capacidade de compreender e de aceitar até algum tempo atrás. Mas hoje, essas coisas se transformaram em realidades insofismáveis a nossa volta, a tal ponto, que até o termo “igreja” já padece de definições, já não se pode mais falar em igreja assumindo que as pessoas saibam o que signifique.
Igreja é esse bazar de ofertas perversas e idolátricas que se constitui a nossa volta com todos os matizes. Até os grupos históricos já entraram nas ondas das doenças barganhantes neopentecostais. O que a gente tem à volta não é algo que possa ser enfrentado com uma reforma.
Re-formar o quê? Dá uma outra forma a essa coisa que está aí? Pode se dar a reforma que se quiser, não adiantará nada. Nós estamos diante da necessidade de Regeneração, de conversão, de esquecer que nós talvez tenhamos sido cristãos e voltarmos ao momento gênesis da nossa consciência e assumirmos uma reconversão profunda da consciência do Evangelho. Do contrário, pode se emoldurar como se quiser o que nós hoje chamemos igreja, porque ela terá apenas uma outra configuração, mas esses conteúdos que aí estão a tornam irredimível do jeito que ela está.
Por isso, não se pede de nós nem 95 teses, nem 50, nem 15, nem 26, nem 12, nem 13, é uma só.
A tese é o Evangelho, o resto é comentário.
O QUE É O EVANGELHO? O Evangelho é a certeza de que Deus estava em Cristo e reconciliando consigo mesmo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões e essa é uma decisão unilateral de Deus.
O QUE É O EVANGELHO? Se não o fato de que se nós o amamos, quem quer que de nós o ame, é porque Ele nos amou primeiro.
O QUE É O EVANGELHO? Se não a certeza de que não há barganhas a fazer com Deus e que está tudo consumado e pago! Que o grito definitivo “Tetelestai”, está pago, de Jesus na cruz cancelou todas as coisas, todas as culpas.
O QUE É O EVANGELHO? Se não a certeza de que o escrito de dívidas da lei de Moisés, lei moral, cerimonial, de qualquer outra natureza, foi cancelado inteiramente, encravado na Cruz. E com esse ato de Jesus, ele esvaziava os principados e as potestades de seu poder, triunfando sobre eles na Cruz.
O QUE É O EVANGELHO? Se não o fato real de todo aquele que crê em Jesus, por meio de Jesus alcança graça em plenitude absoluta, total! Graça que me justifica e que me salva, graça que me santifica, graça que me unge, graça que não só me torna aceitável diante de Deus sem barganhas a fazer, mas graça também que me capacita, me fortalece, me condiciona na justiça, me educando na verdade para que eu ande conforme o Evangelho.
O QUE É O EVANGELHO? Se não a maravilhosa notícia de que está tudo feito, porque se Deus não tivesse feito em meu lugar, não haveria nada que eu pudesse fazer que realizasse qualquer coisa em meu favor.
Ora, o Evangelho simplificadamente é isto!
E a convergência total e absoluta dele é para Jesus. A convergência do Evangelho não é nem para a Bíblia, não é nem para a Escritura, a convergência do Evangelho não é nem para a fé, a convergência do Evangelho é para Jesus. Porque fé sem Jesus não produz absolutamente nada, é fé na fé. Porque as Escrituras ou a Bíblia, sem Jesus é a mãe de todas as heresias, e a história do cristianismo é a prova disso. Porque as Escrituras lidas sem Jesus são um balaio de gato inconciliável, são a receita para a gadarenização psicológica da mente, é querer que as Escrituras se somem a Jesus, e que o pacote seja então a nossa fé. Não é!
A partir de Jesus ficamos sabendo de Jesus pelos Evangelhos, e pelos Evangelhos ficamos sabendo que Jesus é o cumprimento das profecias e aí, pelos Evangelhos e pelo cumprimento das profecias, ficamos também sabendo que o próprio Jesus expôs aos seus discípulos o que a seu respeito constava em todas as Escrituras. E vem Paulo e o escritor dos Hebreus nos dizem que quem tem Jesus tem toda a revelação de Deus, que Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade, Ele é o Verbo, Ele é a Palavra. Ele é a totalidade de todas as coisas, Nele, Jesus, estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.
Por isso, até as Escrituras estão relativizadas. O escritor de Hebreus nos diz que a quantidade imensa de textos das Antigas Escrituras eram sombras, tipos, arquétipos, simbolizações que caíram em caducidade ou em obsolescência diante da realização da encarnação da plenitude do Verbo de todas as coisas, da Palavra eterna que é Jesus.
Então, nem a Escritura me serve mais para ser o ponto de referência. Meu único ponto de referencia é Jesus. A partir de Jesus eu releio a Bíblia inteira, o que couber e ficar conforme o espírito de Jesus e do Evangelho permanece, o que se antagonizar ou se tornar infantil diante da realização e do cumprimento pleno de tudo já em Jesus é descartado.
Jesus é o centro.
A Reforma dizia: “Só as Escrituras, só Cristo, só a Graça, só a Fé”. É muito pilar! O pilar é um só. A pedra de esquina é uma só. É de Jesus que toda a Graça procede. Não precisa afirmar a graça ao lado de Cristo, sem Cristo não há graça. Graça é o favor imerecido, é o Cordeiro que foi imolado antes da fundação do mundo que é o precipitador e o mantenedor de toda a graça. De modo que não posso falar Cristo e graça. Sem Cristo não há graça, não posso dizer só Cristo mais a fé, sem Cristo não há fé. Não posso dizer só Cristo mais as Escrituras, a Escritura concorrendo com Jesus esquizofreniza a mente.
É só Jesus! A Escritura tem que ser lida a partir do Verbo encarnado.
Quando essa conclusão entra no nosso coração, há uma revelação que simplifica o olhar na vida e também radicaliza até as essências das nossas decisões. Aí não há mais barganhas a fazer, aí não dá mais para você ficar com conluios com o cristianismo.
O cristianismo, praticamente, nos ofereceu 1700 anos de bruxaria desde o imperador Constantino e não parou com a Reforma Protestante. A gente não pode ficar nem com o lado protestante do cristianismo, que nada mais é do que uma versão grega, polida, de um catolicismo que fez literalmente dieta, dieta de santos de gesso, de barro, disso e daquilo, mas que por seu turno dogmatizou sua própria eclesiologia e trouxe para dentro pacotes e mais pacotes, doutrinas humanas que aguaram o Evangelho e criaram absolutos que relativizam a Verdade insofismável da Palavra.
Por isso, o próprio protestantismo está sob juízo. E este movimento que a gente chama de evangélico, que é essa coisa, essa Hidra, essa besta de muitas cabeças, tem tudo! Menos o Evangelho. É uma logorréia do nome de Jesus, que baba como gorococo o nome de Jesus, mas não é o Evangelho.
O que se anuncia é o anti-evangelho! O que se anuncia hoje dentro das igrejas é pura macumba. O Deus que está instaurado é Mamon.
O altar é aquele no qual a gente só se ajoelha com expectativa de receber alguma coisa diante de Deus se puser grana, se participar das campanhas, todas elas baseadas na obsolescência do Velho Testamento. Aí tem que ser baseado em Gideão, em Sansão, em Jefté, nos juízes, na pancadaria, na maldição, porque no espírito do Novo Testamento eles sabem que não dá para sobreviver com isso que eles chamam de igreja.
É por isso meus amigos que na parte que me diz respeito, com companhia ou sem companhia, essa é a minha trajetória que não está começando agora. Desde 94 que eu orava e pedia a Deus que me livrasse do meio evangélico, que para mim já me tornara insuportável, não “convivível”. Daí eu ter reduzido as minhas amizades a tão pouca gente... No mais não dava. Se não dava em 94 para mim, quando eu era presidente da Associação Evangélica Brasileira, quando eu ainda mantia os ecos de uma esperança que falia dentro de mim, quanto mais hoje.
Estou definitivamente rompido com isso, para poder estar definitivamente casado com o Evangelho. Não há barganhas a fazer com a igreja evangélica, nem com o movimento neopentecostal, não há barganhas a fazer com o puritanismo presbiteriano que também nega a graça e se apresenta com carteira de identidade de boa conduta e de purismo de interior hipócrita. Não há barganhas a fazer com o cristianismo, com a sua hiper valorização ideológica política, com seu culto aos bens, ao poder, ao status.
Não há barganhas a fazer com aqueles que ficam em cima do muro, anunciando de modo politicamente correto o Evangelho destes púlpitos de oráculos magificados pela superstição e pela paganidade da nossa religião de infantes perdidos, não dá! Para mim não dá mais!
Quem quiser e achar, e julgar, e crer que esse caminho é um caminho puro e simples do Evangelho, eu sou irmão de todo aquele que andar nessa vereda.
Agora, não me associo, não participo, não admito conluios, não creio que seja Evangelho o que se diz com o nome de Evangelho. Não creio que se esteja pregando a Jesus quando se fala o nome de Jesus, não me deixo confundir por nenhuma destas coisas, porque se o conteúdo não for exclusivamente do Evangelho, podem banhar o Cristo de purpurina, a esse Cristo eu direi: Arreda-te em nome de Jesus!
Autorização me é dada por Jesus, me é reforçada pelos apóstolos e, especificamente, recomendada por Paulo, que diz que se vier qualquer outro evangelho vestido de qualquer coisa, mesmo que chegue impregnado de terminologia por nós conhecida, mas se negar o fundamento e a essência da graça de Deus, de que está tudo feito, realizado, pago, consumado por Jesus, não é Evangelho.
E Paulo disse que mesmo se viesse um anjo de luz anunciando isso ou aquilo, mesmo que os anunciadores se travestissem de ministros de justiça ─ ele vai mais além ─ mesmo que eu ─ o próprio Paulo ─ chegue aqui pregando outro evangelho que não seja esse, me repreendam! Chamem-me de Anátema! Pois é sob a recomendação de Paulo que eu estou dizendo em nome de Jesus, que o que se instituiu a nossa volta é anátema! É abominação!
E quem quiser continuar andando em conluio com isso saiba: está caminhando de mãos dadas com a pior feitiçaria já inventada na terra, que é essa praticada blasfemamente em nome de Jesus. Essa que provoca esse grande estelionato do Evangelho. É essa que tornou o termo igreja algo que define um agrupamento de assaltados pelos assaltantes mais sofisticados, venais e calhordas que já surgiu na história humana.
Quem quiser continuar com esse conluio, achando que basta cultuar a Bíblia, carregar o livro, dizer que você é um homem da Palavra porque carrega esse livrão, que nada mais é do que um best seller que endinheira organizações que vivem é da venda do produto sem preocupação com a absorção do conteúdo, se você quiser continuar andando neste caminho, ande, se enterre com a Bíblia! E vá para o inferno com a Bíblia sem Jesus no coração!
Está me achando radical? Meu irmão, o adágio popular diz que uma andorinha só não faz verão, mas quando o verão chega, até as andorinhas acovardadas têm que voar porque fica quente demais.
A minha esperança, que vim até aqui fazendo um voo meio solitário com alguns amigos e irmãos queridos, é que o calor do verão se torne insuportável, aí quem sabe as andorinhas acovardadas batam asas e descubram que ou a gente se une para virar esta estação ou o verão eterno vai nos queimar até que se torne completamente insuportável.
Mas é você que define se o seu caminho é o do clube ou se é o do caminho do Caminho.
Se a jornada é daqueles que se tornam seguidores contemplativos de Jesus ou se você se tornará um discípulo engajado. Se você é daqueles que vão preferir lamber e beijar afetivamente o engano da religião ou se você vai cuspir essa maldade e vai comer o Pão da Vida, e vai apenas se alimentar daquilo que seja puro e simplesmente Jesus. Porque o que não seja Jesus provoca digestão eterna no coração.
É só isso que eu tenho a dizer!
O mais é decisão de quem quer que seja grande e não esteja mais disposto a ficar brincando no presépio do cristianismo, se enganando enquanto diz que sonha todo dia com uma grande mudança, uma reforma na igreja.
Reforma de igreja só acontece com templo, em pedra. Ninguém põe remendo de pano novo em veste velha, disse Jesus. O vinho novo a gente não põe em odre velho, momentos novos, catarses definitivas demandam conteúdos e formas que se adéquem ao tempo, à hora e ao momento.
De modo que não vai dar nem para aproveitar alguma coisa. A nossa viagem vai ter que ser muito mais radical, se alguém quiser fazê-la, a gente tem que voltar para a simplicidade do Caminho, para as jornadas do Evangelho, para as práticas sem interpretações teológicas, para a simplicidade que prescinde dos hermeneutas e dos exegetas, porque o Verbo se fez carne e, agora encarnado, o Verbo se explica.
Jesus é o hermeneuta, Jesus é o exegeta, aquilo que eu não entendo daquilo que ele diz, eu compreendo pelo seu modo de agir. Porque ele não era esquizofrênico, tudo o que Ele diz Ele encarnou. Eu não preciso procurar o melhor professor de grego ou hebraico para poder entender o espírito do Evangelho. Vendo os movimentos de Jesus tocando a vida humana, o Evangelho se autoilumina para quem quer, para quem queira. Sempre foi assim!
Não se pode permitir que isso se torne diferente, nem para os presunçosos que acham que o Evangelho cabe na academia dos seus pensamentos iluminados por luz negra e nem mesmo noutro polo desta mesma situação que é a arrogância carismática neopentecostal imacumbada, bruxificada e perversa que transforma a fé em Jesus neste cristianismo de feiticeiros.
Já falei mais do que devia! As conclusões são suas! Que Deus nos abençoe!
Caio Fábio
sábado, 17 de outubro de 2009
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Levita: Como isso me irrita!

"Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado."
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
É proibido proibir

Acho que tem muita coisa que passamos batido nas escrituras, mas esta me pegou mesmo se sobressalto. Então o BEM também está incluso no PECADO? Muito estranho para alguém criado na igreja ouvir isso. Sempre imaginei os 10 Mandamentos como uma espécie de parâmetro para a vida cristã - apesar de encontrar alguma dificuldade em entender como a guarda do sétimo dia seria "traduzida" para o novo testamento.
Em suma, poderíamos dizer que BEM e MAL não faziam parte do plano de Deus. Ele preferia que optássemos pela VIDA. Seu plano original, ao criar o homem à SUA imagem era que este homem multiplicasse seres também à SUA imagem, ou seja, iguais a Deus. VIDA.
Não havia religião, não haviam mandamentos, não haviam dogmas, sacerdotes profissionais, não haviam reuniões. Apenas Deus e a humanidade, se encontrando diariamente à tardinha como bons amigos. Havia prazer nessa relação, não obrigatoriedade.
A proibição à árvore do conhecimento do BEM e do MAL poderia ser entendida em termos chulos da seguinte forma: A única regra é que não há regras! Ou ainda para citar Caetano Veloso, "É proibido proibir".
Comer daquela árvore significaria abrir os olhos do homem para o que significa viver uma vida tendo que escolher entre o certo e o errado. Com as duas forças em seu interior, o que ele QUER e o que ele FAZ, como bem ilustrou o apóstolo Paulo.
Refletindo sobre isto não consigo deixar de pensar se não estamos tomando o caminho errado. Retornar para Deus através do caminho do certo e do errado seria como comer novamente do fruto do BEM e do MAL. Isso tem sido experimentado pela igreja há séculos, sem sucesso. As pessoas continuam carregando seu fardo de pecados, sua mochila de expectativas e sua sacola de culpas.
Na real mesmo vejo que o certo e o errado, o BEM e o MAL tem sido usado para nos justificar, por mais ridículo que isso possa parecer. Usamos aquelas regras que conseguimos superar com relativa facilidade para nos colocar num patamar mais elevado que aqueles que encontram dificuldade com aquela mesma regra.
Por exemplo, para mim é muito fácil olhar para um viciado em crack e me dizer-lhe que está no caminho errado. Mas se ele tivesse a mesma cara-de-pau que eu tenho, poderia me jogar na cara uma série de pecados contra os quais eu vivo me debatendo, mas que ele por outro lado não encontra nenhuma resistência. Mas ele não faz isso. Ou seja, nós que conhecemos a Lei, tentamos nos justificar pela Lei. Talvez nesse ponto cheguemos à conclusão de que ele (o jovem viciado) está mais próximo da graça do que eu.
Romanos 3:19
"Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus."
Confesso que isso pode ser frustrante. Me esforço para ser "aceitável" dentro de um certo padrão de comportamento, então descubro que este mesmo padrão foi criado com o único propósito de me tornar "condenável"? Estranho...
Então a Lei não é para ser seguida, sob risco de me tornar condenável? É uma forma de ver as coisas...
Creio que a observação de um certo padrão de comportamento é sim proveitosa, porém não para nossa aceitação diante de Deus, mas como nossa resposta ao Seu amor. Este é o ponto.
Ele nos amou primeiro. Isso significa que não é aquilo que somos, aquilo que temos, ou aquilo que fazemos, mas sim o Seu amor infinito que nos aproxima dEle, e nos acolhe. Isso se chama GRAÇA, que é uma nova forma de interpretar a ÁRVORE DA VIDA. Ela não é opsta mas sim complementar à ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL, tanto quanto JUSTIÇA e GRAÇA são complementares.
O ato de NÃO comer da árvore do BEM e do MAL já era em si um fruto do comer da VIDA. Como uma resposta à GRAÇA, não como uma norma de conduta (LEI).
Espero sinceramente ter dado um nó na cabeça de muita gente, porque a minha está totalmente enrolada (rs). Este é o tipo de coisa que a gente se esforça, até consegue enxergar, mas sempre sente que há algo ainda por compreender. Assim é Deus.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Jesus e a não-religião
Cada vez que olho para a igreja evangélica moderna o sentimento que meu coração mais manifesta por ela é este: Dó, PENA.
O religioso evangélico moderno não crê definitivamente em Jesus e em sua mensagem, por isso está tão íntimo de Deus quanto um polvo abandonado no solo seco do deserto do Saara. Compreende tão bem as palavras do Mestre quanto um cachorro estudando física nuclear. E se empenha tanto na missão de Cristo quanto uma criança mimada frente a um prato de jiló.
A religião tem sido, séculos a fio, exatamente a responsável por nos anestesiar das verdades proclamadas pelo evangelho de Cristo. Nos preocupamos com o dízimo, e não ajudamos os necessitados; nos atemos à música e não vivemos uma vida de adoração; estudamos exaustivamente a teologia, e não vivemos a vida de Cristo.
Paulo disse a Timóteo q todo aquele que deseja piamente seguir a Jesus, SOFRERÁ PERSEGUIÇÕES. A religião, por outro lado, busca a cada dia se tornar mais ACEITÁVEL do ponto de vista secularizado. Ou então, quando foi a última vez que você ouviu um pregador que anunciava do púlpito as palavras de Jesus:
"Quem não aborrecer pai, mãe, e até a si mesmo, não pode ser meu discípulo"
"Todo aquele que dentre vós não renuncia TUDO quanto tem NÃO PODE ser meu discípulo"
"Arrependei-vos pois é chegado o Reino dos Céus"???
Simples. A religião não prega estas palavras porque a religião não tem parte com Cristo.
Tenho ouvido de alguns irmãos que devemos preservar nossas raízes religiosas, seguindo o exemplo de Cristo, que não deixou de ser judeu. Ta certo, Jesus não abandonou o judaísmo no qual nasceu, porém ele não se calou diante da opressão dos sacerdotes, antes pôs o dedo na ferida da religião, ao ponto deles o matarem.
O que mais me intriga é que os judeus buscavam um messias que os livrasse do jugo político romano, porém Jesus surge como o messias que intenta livrá-los do jugo religioso, ou seja, deles mesmos.
Afinal, o que Jesus queria dizer quando falava "Ouviste o que foi dito por Moisés.... Eu porém vos digo...?". A verdade é que não dá pra conciliar religião e Jesus. O Sermão da Montanha (Mateus 5, 6 e 7) deixa isso muito evidente.
Nessa passagem Jesus diz que se alguém fosse um bom judeu, deveria apedrejar sua filha que perdeu a virgindade antes do casamento. É o que diz a religião. Se alguém fosse um bom judeu, deveria odiar seus inimigos. Mas se alguém quer ser um discípulo de Jesus ele deve amar ao seu próximo, e também seus inimigos. Orar por quem o persegue. Ser sal e luz por onde passa, expalhando as boas novas e o amor de Deus!
Veja bem, se eu tenho algo que não me serve, para que continuar com ele? Se eu sei que aquilo só está servindo para atrapalhar e normatizar negativamente minha relação com Deus, para que eu sigo aquelas regras?Jesus foi absolutamente contra as práticas religiosas. E atacava a religião até mesmo no patio do templo, onde costumava reunir-se com os seus discípulos.
Que diriam se um profeta mais exaltado levasse um chicote a um certo "encontro gideônico", em Santa Catarina?
A religião é o próprio erro humano. O esforço para alcançar a Deus por nosso mérito. Isso é simplesmente impossível. Mas a bíblia ensina que foi o próprio Deus quem fez o caminho de retorno, nos religando ao Pai. Por isso a graça nos alcançou.
Se por um acaso a religião nos faz seres humanos melhores (e eu sinceramente duvido muito) é para nos gabarmos do que somos, e diminuirmos nosso próximo. É isso que a história da religião nos mostra. Nesse contexto, a missão de qualquer discípulo de Jesus que esteja engajado em alguma religião deveria ser unicamente de abrir os olhos dos fiéis para a verdade, que é NÃO HÁ SALVAÇÃO NA RELIGIÃO.
Glória a Deus pq o Reino dos Céus chegou a nós... Não apenas como uma esperança de um dia desfrutarmos do paraíso na eternidade, mas como uma vida abundante de adoração prática, capaz de impactar a sociedade em que vivemos.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Jesus é para perdedores
Os clássicos nunca morrem. Tava passeando pela web e me lembrei do velho Steve Taylor. Este clipe é do início da década de 90.. (1992 eu acho). Como a música está numa temática muito parecida com meu último post, nem vou comentar. Apenas segue uma tradução livre da letra. (Ainda que o meu inglês não seja o melhor do mundo... rs).
Curta e reflita.
Jesus é para perdedores
Jesus is for Losers - Steve Taylor
Se eu fui guiado
Guiado adiante por nobres ideais
Quem tomou a direção?
Se me foi ofertado
Ofertado um vislumbre de alguns caminhos gloriosos
Quando foi que eu comprei isso?
Então eu me torno a caça
E continuo esquecendo o meu lugar
Assim como eu sou
Cabeça-dura e orgulhoso
Jesus é para perdedores
Porque é que eu continuo a jogar com a multidão?
Assim como eu sou
Passe a bússola, por favor
Jesus é para perdedores
Estou fora uns cem graus
Se eu estivesse tateando
Tateando em torno de alguma escada da fama
Estaria envergonhado
Se eu estavesse esperando
Esperando respeito arrumaria um enorme capacho
Eu seria um idiota
Cansado de cada escalada
Surpreendido cada vez
Assim como eu sou
Estou carente e seco
Jesus é para perdedores
O "faça-você-mesmo" não funciona
Assim como eu sou
Rastejando em um deserto
Senhor, estou tão sedento
Leve-me até à cascata
E se você estiver certo
Certo que a sua vida é algum erro cósmico
Porque você treme?
E se você estiver certo
Certo de que a fé é um disfarce para a ignorância
Por que você ainda pergunta?
Eles não foram aprovados aqui na curva
Nós dois sabemos o que merecemos
Assim como você está
Apenas um desgraçado como eu
Jesus é para perdedores
Graça vem do sangue do madeiro
Assim como nós somos
Em uma derrota total
Jesus é para perdedores
Quebrantados aos pés da cruz
Assim como eu sou
Passe a bússola, por favor
Jesus é para perdedores
Estou fora uns cem graus
Assim como eu sou
Rastejando em um deserto
Senhor, estou tão sedento
Leve-me até à cascata
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
O mérito é pra quem pode

Romanos 3:19
"Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus"

terça-feira, 20 de janeiro de 2009
O que é adoração? (parte 3/3)
Creio que agora ficou fácil tão quanto somar um mais um. É impossível adorar a Deus “em espírito” (manifestando a Ele nosso amor) se nós não o adoramos “em verdade” (manifestando ao próximo o amor dEle). Mas o contrário também é verdadeiro. Não podemos adorar a Deus “em verdade” (amparando aos necessitados), se não o estivermos adorando “em espírito” (sendo amparados por Ele).

Mas chega de dizer “o que não fazer” e vamos direto ao ponto. “O que fazer?”
Mateus 18:20
“Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.”
Espero que os irmãos não se escandalizem com o que vou colocar aqui, mas quando nos reunimos para comer uma pizza, contar piadas, ouvir música, ver um filme ou jogar “Imagem e Ação”, ali o Senhor está. Ele está no meio de nós, não só em nossas reuniões religiosas. Deus não é um passarinho, atraído por uma fita cassete que imita seu canto a fim de prendê-lo num alçapão.
Ele é o nosso Senhor, e é também a razão de nos reunirmos, mesmo quando a reunião é a mais informal possível. Não há outro motivo para continuarmos vivos, a não ser o louvor da Sua Glória. Para isso fomos gerados, para isso toda a criação existe.
I Corintios 10:31
“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.”
Graças a Deus! Podemos nos alegrar, nos edificar mutuamente, comendo, bebendo ou fazendo qualquer outra coisa PARA A GLÓRIA DE DEUS. Até por que era assim que o próprio Jesus fazia nos banquetes e nas reuniões entre amigos, nos templos e também à beira de um poço.
Podemos cantar, mas também podemos ficar em silêncio. Podemos chorar e nos quebrantar, mas também podemos nos divertir e nos alegrar. Não é mais necessário um sacerdote para interceder por nós diante de Deus, pois temos um Sumo Sacerdote que nos abriu o caminho de volta para o Pai! Jesus Cristo!
I Corintios 3:17-18
“Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.”
Para concluir, podemos dizer que o verdadeiro adorador é aquele que contempla a face do Senhor e se torna como Ele. Quanto mais olha para Ele, mais parecido com Ele fica. Suas atitudes e sua forma de pensar são transformadas à imagem de Jesus. Seu amor pelo próximo já não é um dever, mas sim algo que brota de uma vida íntima com Deus.
O verdadeiro adorador é aquele que o Pai procura: um filho, disposto a ser transformado à sua imagem e semelhança.
O que é adoração? (parte 2/3)
Quando somos alvo da graça de Deus resta-nos apenas dois caminhos possíveis, e já vimos quais são: o doce e o amargo. Disso depende também nossa adoração “em verdade”.
Ao recebermos graça não podemos de modo algum espalhar a ausência de graça, ou a “desgraça”. Para mim está claro que devemos nos tornar multiplicadores da mesma graça que nos salvou.
Me incomoda muito a parábola de Jesus sobre o servo com a dívida impossível de ser sanada (Mateus 18: 23-35). Após ser perdoado de uma dívida de milhões de dólares, este cidadão foi cobrar os R$ 0,25 que seu vizinho havia tomado emprestado para comprar um pão francês. Sei que parábola não está nestes termos, mas fica mais fácil entendermos a situação contextualizando os elementos.
Ora, fomos todos resgatados. O Senhor nos perdoou uma dívida que só poderia ser sanada no inferno. Aliás, nunca é demais lembrar, todos iríamos para lá se não fosse por Jesus. Até mesmo o mais correto entre os homens não pode justificar-se a si mesmo. Somente o pagamento providenciado pelo próprio Deus, nos livrou da dívida que tínhamos para com Ele mesmo.
Como posso eu revidar com um soco ao irmão que me feriu? Como posso cobrar aquele que me ofendeu? Como posso tirar satisfações com a velhinha que me fechou no trânsito sem estar cometendo uma tremenda injustiça?
Diante da minha dívida, paga por Cristo na cruz, os meus direitos, dos quais me orgulho tanto tornam-se tão pequenos. Eu diria que são insignificantes.
No primeiro capítulo de Isaías, o Senhor queixa-se que o “louvor” apresentado pelo povo naquela ocasião simplesmente não estava em consonância com a atitude deles diante das dificuldades daqueles que os cercavam. Ele chega a declarar que, quando o povo estendia as mãos, em gesto de adoração, o Senhor escondia deles o rosto. “…porque as vossas mãos estão cheias de sangue…” (vers. 15).
O conselho para eles era de que se lavassem, se purificassem, tirassem a maldade de seus atos, e parassem de fazer o mal, mas aprendessem a fazer o bem. Buscassem a justiça, acabassem com a opressão, fizessem justiça ao órfão, e defendessem a causa da viúva. (vers. 16 e 17).
Parecem coisas muito distantes da “adoração” a que somos mais habituados. É que para adorar em verdade não precisamos de instrumentos musicais, nem de microfones. Não precisamos de um salão de reuniões. Quem a pratica não vende CDs, nem fica famoso. Não ganha dinheiro (e muitas vezes acaba até perdendo o pouco que tem), mas sem esta adoração “em verdade”, nossa adoração “em espírito” não vai passar do teto.
Adorar em verdade não é retribuir favores àqueles que foram ou são bons conosco. Também não é simplesmente praticar uma caridade “kardecista”, a fim de sermos recompensados neste ou em outro mundo. É sim MINISTRAR GRAÇA. E, por se tratar de algo gratuito, fica claro que não receberemos nada em troca.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
O que é adoração? (parte 1/3)

“Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me, a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai… Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.”
Esse texto é muito rico e muito especial. Eu o conheço e ouço falar sobre ele desde que me conheço por gente. Aqui Jesus fala a uma mulher que, além de amasiada (um pecado enorme para os padrões da época), era samaritana (um povo com o qual os judeus não se davam).
Aparentemente Jesus não deu muita importância para os estigmas que acompanhavam aquela senhora. Ele diz a ela que brevemente judeus e samaritanos adorariam ao Pai da mesma forma.
Mas afinal, o que significa adorar em espírito e em verdade?
I Corintios 14:2-4
“Porque o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação. O que fala em língua edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja.”
Aqui Paulo fala sobre dois níveis de ministração. Chama a atenção que o falar em línguas, segundo o apóstolo, é algo que se faz em espírito, e traz edificação para si próprio. Já o profetizar, afirma ele, edifica a igreja através de edificação, exortação e consolação.
Acredito que o mesmo acontece com um adorador “em espírito e em verdade”. A Deus ministra em espírito, para a própria edificação. E em verdade ministra aos irmãos para a edificação de todo o corpo de Cristo.
EM ESPÍRITO – Experimentando a graça
Parece estranho que ao dirigirmos nossa adoração ao Senhor os edificados sejamos nós mesmos, e não Ele. Mas não há como negar o quanto NÓS somos abençoados neste processo. Reconhecer nossa insuficiência diante da santidade do nosso Deus é algo que nos lava a alma, e nos traz realmente uma sensação de que fomos aceitos por Ele, apesar de nossas gigantescas imperfeições. É possível dizer que adorar em espírito é o mesmo que EXPERIMENTAR A GRAÇA.
Por outro lado é possível encontrar diversas citações bíblicas em que Deus afirma categoricamente que não está se agradando daquela “adoração”. Em cada uma delas parece haver um ponto comum que “maculou” a adoração que supostamente estaria ocorrendo em: A FALSIDADE (Lucas 18:10-14 / Isaías 1:13-17 / Oséias 6:6)
Não se trata da simples mentira em si, nem mesmo do pecado. No Salmo 32 Davi deixa bem claro que a santidade não é a ausência de pecado, mas sim o confessar “a tempo” as suas faltas, antes que o “transbordar das muitas águas” te arraste para longe da presença de Deus.
Interessante o salmista usar a figura da ÁGUA, que justamente trata do derramar do Espírito, e do fluir da graça de Deus, como se fosse um momento terrível. Parece-me que, permanecer com o pecado encoberto, diante da manifestação do Senhor significa problemas à vista…
Como já dissemos, quem adora em espírito experimenta a graça. Mas não se pode experimentar a graça sem que haja arrependimento. Uma coisa está firmemente dependente da outra.
Judas e Pedro foram traidores de Jesus. Ambos foram alvos da graça, mas apenas Pedro a experimentou mediante o arrependimento. Judas sentiu um gosto muito mais amargo.
Diante da graça de um mestre que, mesmo sabendo que seria traído por ele, o tratou como os demais, em amor, ensinando-o e compadecendo-se dele. Judas afogou-se no remorso. Pedro arrependeu-se, e gozou do perdão e da graça desse mesmo mestre.
Circunstâncias muito semelhantes. Posturas ligeiramente diferentes. Futuros completamente diversos. Enquanto um tornou-se um dos principais entre os apóstolos, o outro comprou um campo para enforcar-se.
Aprendendo a ser igreja com história da Bossa Nova
Tenho uma amiga a quem prezo muito chamada Silvia Marcondes. Ela é uma daquelas cariocas bem nascidas, educada em colégio inglês, criada em mansões, politizada, capaz de discutir sobre quase qualquer tema que a conversa exigir.
Filha de Enio Silveira (um magnata que publicava livros comunistas no Rio de Janeiro em pleno auge da ditadura militar) Silvia cansou de me contar como viu a Bossa Nova nascer no piano que ornamentava a sala de sua casa. Não, seus pais não eram músicos e nem seus irmãos. O piano era uma cortesia que o senhor Enio preparava para receber amigos como Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, João Gilberto, Baden Powell, entre outros "jovens" talentos.
Isso aconteceu no final da década de 50, exatamente quando um grupo de amigos cansados da pobreza cultural da época começaram a compor música com temática brasileira inspirada no jazz norte americano.
Eles eram em sua maioria jovens da classe A e B, que viviam em apartamentos não raras vezes sustentados pelos pais. Exceto pelas ocasiões em que se encontravam na mansão onde morava minha amiga Silvia, suas canções eram entoadas bem baixinho, em seus apartamentos, para grupos de cinco ou seis amigos. Daí o jeitão de cantar sussurrando, que apareceu logo na primeira gravação do "Desafinado" João Gilberto. O que no início aparentava ser uma limitação acabou se tornando o charme da Bossa, e uma identidade que acabou conquistando o mundo.
Alguns anos atrás, eu conversava com alguns irmãos sobre a necessidade ou não dos templos, uma vez que sabemos que Jesus e os primeiros discípulos não dispunham de uma estrutura física para se reunirem.
Eles não tinham um lugar para chamar de "igreja", por isso qualquer lugar em que se encontrassem acabava se tornando uma "igreja" (na concepção moderna e mais vulgar da palavra). Na prática, eles mesmos ERAM a igreja, e levavam isso muito a sério. A ponto de morrerem por sua fé.
O livro de Atos dos Apóstolos (que poderia muito bem chamar-se Atos do Espírito Santo) nos ensina que a igreja reunía-se nas casas dos fiéis. Mas muito longe do que cogitam alguns, esta não foi uma prática cultural apenas, ou fruto da perseguição (que na verdade surgiu depois), mas uma resposta positiva à ordem expressa do próprio Jesus, registrada em Mateus 10:11
"E, em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela seja digno, e hospedai-vos aí, até que vos retireis."
A estratégia dada pelo próprio mestre não envolvia grandes cruzadas evangelísticas, nem apelos ao arrependimento das multidões. Ela era simples. "Procurem casas de pessoas dignas, e fiquem ali ensinando elas".
Fácil, não?
Mas numa dessas ocasiões fui inquirido por um irmãozinho nos seguintes termos. "Hoje nós que vivemos nos grandes centros urbanos, não temos tanta privacidade assim. Nossos apartamentos são pequenos para reuniões caseiras, e não é possível nem mesmo cantar um hino em voz alta que os vizinhos já reclamam. Orar em línguas então, nem me fale..."
Nesse momento eu me lembrei de minha amiga Silvia Marcondes e da turma da Bossa Nova.
Se o apartamento não comportava uma platéia de 20 pessoas, eles reuniam cinco. Se não podiam fazer barulho, eles cantavam baixinho. Não é à toa que tinham o respeito e admiração da alta sociedade carioca (que convivia nos mesmos prédios que eles). Não vou entrar no mérito aqui, mas será que temos o respeito dos vizinhos de nossos "templos"? Ou é melhor nos isolarmos em nossos feudos cristãos a fim de termos um pouco de privacidade e "louvarmos" a Deus como nos convém?
Gosto muito da versão da Sociedade Bíblica Britânica para Colossenses 3:16
"A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria, instruindo e admoestando-vos uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, com gratidão louvando a Deus em vossos corações."
Uma leitura mais atenta nos revela que os salmos, hinos e cânticos espirituais não necessitam estar em nossos lábios (muito menos do outro lado da parede, impedindo o vizinho de assistir a novela ou o Fantástico), mas sim em nossos corações.
A Bossa Nova ganhou o mundo com um sussurro carregado de emoção.
Com toda sinceridade, creio que o evangelho tem muito mais a acrescentar. Depende de nós crermos nele, e obedecermos ao nosso Senhor, Jesus Cristo.
Paz a todos.
domingo, 18 de janeiro de 2009
Eu nunca fui evangélico

Sempre fui ensinado que não estaria entregando minha vida à religião, e que não éramos definitivamente uma "igreja evangélica". Éramos (e ainda somos) um grupo de discípulos de Jesus Cristo.
Biblicamente falando, a palavra "evangélico" não aparece nenhuma vez nos "evangelhos" (por mais estranho e controverso que isso possa parecer) para designar aqueles que viviam e proclamavam as boas novas.
A palavra CRISTÃO (que aparece 3 vezes) surge um xingamento usado pelos judeus que não criam que Jesus havia ressuscitado a fim de desestimular a fé daqueles que se achegavam a Deus através de Jesus. Era como dizer: "Vocês seguem àquele mestre judeu que se dizia rei e foi crucificado? O fim de vocês vai ser o mesmo dele, serão derrotados e expostos vergonhosamente".
A palavra CRENTE aparece 9 vezes, mas na maioria delas não se refere a uma "nomenclatura", mas a um adjetivo. Como quando Jesus diz a Tomé para não ser INCRÉDULO, mas sim CRENTE (João 20:27). Isso não significa que Tomé deveria aderir a um determinado grupo religioso que se denominaria como "crente", mas que ele crêsse em Jesus e em suas palavras. Ou seja, numa tradução livre, Jesus teria dito algo como: "Tomé, você precisa ser menos cético, e mais crédulo".
No termo EVANGÉLICO acontece a mesma coisa. Com zero aparições (isso mesmo, ZERO) na única vez que aparece uma derivação dessa palavra é no feminino, e trata da "FÉ EVANGÉLICA" (Filipenses 1:27), que em algumas versões é substituído pela expressão "fé do evangelho". Trata-se de uma recomendação de Paulo pela unidade da igreja em Filipo, a fim de que prosseguissem na mesma direção ainda quando ele não estivesse por perto.
Já o termo DISCÍPULO é o único substantivo autêntico, que designa aqueles que pretendem ser como Jesus. Claro que há um "peso" nisso. Proposital, claro.
Ser discípulo não é ir aos cultos, nem é ter seu nome num hall de membros. Não é ter um ministério (se é que alguém pode TER isso...) e nem mesmo é professar uma religião.
Mas o discípulo não é um agente secreto. Longe disso. Ele prega com suas atitudes. Adora a Deus com sua obediência e vive em função do propósito de Deus.
Enquanto vemos cristãos e evangélicos nominais (os famosos "não-praticantes"), o mesmo não acontece com os discípulos.
Quem é, é e ponto final. Ou é ou não é. Não existe discípulo desviado. Existe discípulo simplesmente. E quem não é discípulo pode ser encarado como "campo missionário", mas isso é assunto pra outro dia.
Paz a todos.